Um oásis imaginário.

A escola era um oásis para aquelas crianças desnutridas e sem afeto... Ali aprendiam muito e de forma diversa. Havia a merenda, uma mesa, uma cadeira, um caderno e um lápis. Por vezes, a borracha era um luxo. Uma caneta poderia também ser... O livro era um monstro sagrado a ser decifrado. Naquelas breves horas, de leitura, de aprendizagem e de irmanação, subíamos até o Olimpo, conhecíamos deuses, filósofos, crenças e histórias. Por vezes, eram apenas estórias eivadas de ficção e magia. Era um oásis... longe da miséria pungente, dos tiroteios diários, da exclusão contínua por conta das desigualdades sociais... As vezes, fazia "vaquinha" para comprar um sapato para alguns alunos que quase iam descalços ou apenas de chinelos... Chinelo já era considerado um luxo. Um sapato fechado equiparava-se um iate de luxo... Guarda-chuva era algo excepcional. A maioria dos alunos mesmo quando chovia, enfrentava a chuva, sob pena de depois cair doente devido a baixa imunidade ou a mera desnutrição. Era duro ver tamanha desumanidade diária, constante e banalizada por muitos. As vezes, suspirava fundo, como se fosse possível buscar dentro do peito, algum impulso para continuar... Era difícil... Muito degradante. Afora isso, os professores são desvalorizados... os profissionais da educação vistos como meros ideólogos distantes da triste realidade de nosso país... Chegava em casa, cansada mas tinha que colocar o guarda-pó para lavar... afinal ele tinha enfrentado uma guerra... A guerra diária pela sobrevivência.