A linguagem entre bordões.
Lucíola era normalista, estava no último ano. Seria professora de alfabetização. Seu pai Arthur já sonhava em casar Lucíola com seu primo Fabrício, engenheiro formado e trabalhava na Rede Ferroviária. Em verdade, Lucíola não contestava o pai. Era obediente e pacata. Como deveria ser toda mulher naquele tempo. Fabrício estava radiante sempre nutriu uma paixão secreta por Lucíola. Era bonita e inteligente. No dia da formatura, quem lhe deu o anel foi Fabrício, quando também fez o pedido de casamento. Lucíola era hábil e não respondeu negativamente. Aceitou o anel, mas não respondeu nada sobre o casamento. Depois da cerimônia de formatura, foi procurar o pai para conversar. E, tentou em vão convencê-lo que casar tão cedo era ruim... Ela mal tinha dezoito anos... e, desejava empenhar o seu lado profissional. Tanto que fez concurso para a Prefeitura e passou... Iria dar aulas na Escola José Bonifácio. Estava radiante. Nem estudou para o concurso. Lucíola tinha grandes habilidades com situações auspiciosas. Chegou perto do pai, pediu-lhe um presente. Já que o anel fora dado pelo pretenso noivo. E, assim, interpelou o pai: - Meu amado genitor, posso pedir-lhe um presente? Arthur, desconfiado coçou a cabeça. E, logo atalhou: - Filha, papai está com dificuldades financeiras. Não me peça nada caro, por favor. Lucíola, respondeu: Não é caro. Apenas adie meu casamento por dois anos. Para eu me estabilizar como professora e fazer um enxoval decente... Arthur olhou dentro dos olhos da filha... e disse: - Mas filha, Fabrício é abastado e nada lhe faltará. Você nem precisará trabalhar... Lucíola, mais uma vez, rogou: - Papai, eu estudei tanto, ganhei medalha e reconhecimento de ser uma excelente aluna. Por favor, não me obrigue a casar tão cedo. E, já se debulhava em lágrimas.. Arthur, acuado, disse:- Então está bem... Pega e vai!... Mas, em dois anos a senhorita casará de branco na Capela Nossa Senhora da Lapa. Lucíola limpou as lágrimas, sorriu feito Mona Lisa... abraçou o pai. E, foi para o quarto. A linguagem entre bordões é uma comunicação informal e até afetiva, amenizam tragédias sociais e íntimas... enfim, tratam de uma sobrevivência rápida e eficiente.