Silêncio semântico
Carlos era jovem e médico. Era tímido e fechado. Só falava o necessário. Era filho único do Coronel Barcellos e Dona Eunice. Família aristocrática... Onde a formulação comportamental era bem complexa. Tinha um ano de formado, ainda estava na residência, havia muito a aprender... Mas, a realidade daquela cidade que estava se urbanizando era muito desafiadora. Antes a pequena província, doravante uma cidade em crescimento e, quando começaram a surgir doenças nunca antes conhecidas. Nos idos do século XVIII, várias doenças afetaram a população do mundo, com destaque especial para a varíola que causou milhões de mortes e fora endêmica na maior parte do mundo. Outras doenças comuns existiam tais como a disenteria, malária, difteria, gripe e febre tifoide. O médico chefe era Antônio Medeiros que já tinha mais de duas décadas de experiência e, ainda se esforçava para ser um bom gestor. Antonio tinha escalado por três vezes sucessivas, Carlos para os plantões em caso de emergência. Carlos jamais reclamou, porém, sua mãe D. Eunice adoentada estava com pneumonia dupla, e pediu ao Chefe Antonio para liberá-lo a fim de que pudesse visitar a mãe doente. Antonio era um chefe rabugento, eternamente de mau humor... E, ousou responder: - quem é médico não pode ter prioridades pessoais... Carlos com seu viés matuto, cerrou os olhos e, apenas falou: - preciso ir ver minha mãe. Por educação e profissionalidade vim pedir ao senhor. Todavia, se não for possível, peço que anote minhas faltas. E, saiu andando como reticências poéticas... Antônio, de olhos arregalados, respondeu: Nossa senhora. Melhor teria sido, ter deixado seu contumaz silêncio semântico... A enfermeira Cláudia, começou a rir, e disse que estava diante de uma comédia literária.